Nossos sentidos são impactados por diversos estímulos o tempo todo e sabemos que a formação da percepção é biológica e também cultural.
Imagine-se no seguinte ambiente: “Da esquerda soa, no último volume, uma música antiga e famosa. “Vamos entrando!”, grita alguém do outro lado. Atrás, um grupo de jovens dá risada e, em algum lugar, uma criança berra. Simultaneamente, brilham e reluzem por toda parte luzes coloridas, enquanto nossos olhos tentam acompanhar os loopings da montanha-russa. O tumulto de um parque de diversões inunda nossos sentidos. E talvez o programa não fosse tão bom sem essa multiplicidade de estímulos, sem a concentração de pessoas, o empurra-empurra e o acotovelamento, sem o sorvete na mão ou o cheiro de algodão-doce e pipoca”.
Em seu artigo mais recente, publicado na Scientific American Mind, ele revela um interesse especial por situações em que o cérebro se ludibria produzindo falsas imagens de um ambiente, como o efeito enganoso de ventríloquo. “Embora a voz que se ouve não seja originada pela boca em movimento do boneco, a impressão que temos é exatamente essa”, afirma. O mesmo exemplo serve para o cinema, quando acreditamos que os atores estão falando, mas suas vozes são reproduzidas pelos alto-falantes.
Para Kayser, nosso cérebro trabalha com a premissa de que “a fonte do que é dito se encontra onde os lábios se movem no ritmo adequado – ele combina, portanto, de forma significativa e entre si, a impressão de audição e de visão”. Assim, a informação se processa tanto na palavra falada quanto no movimento dos lábios.
Essa mesma combinação entre os sentidos ocorre em situações em que percebemos melhor a luz quando vinculada a uma sensação auditiva. Como quando estamos num barco em movimento, olhando para a luz emitida por um farol e nossa percepção da luz diminui gradativamente. Se houver um barulho associado ao movimento da luz, levaremos mais tempo para deixar de percebê-la, veremos a luz por mais tempo. Através da ilusão, o cérebro tenta construir um ambiente real.
Nos últimos anos, os pesquisadores da percepção revelaram que a atividade sensorial é mais intensa quando estímulos táteis e visuais ocorrem simultaneamente e que algumas áreas cerebrais se tornam ativas quando dados sensoriais diferentes convergem. Para os pesquisadores da percepção, o cérebro trabalha de várias formas, mas duas são presumíveis: na primeira, os sistemas sensoriais atuam isolados, processando as informações que recebem e se combinando ao final do processo. Na segunda, cada sentido consegue co-interpretar precocemente os estímulos percebidos e, para formar a impressão total, eles se complementam em frações de segundo.
Para encontrar o caminho que o cérebro percorre para formar as sensações, as pesquisas se utilizam de recursos tecnológicos científicos como tomografias de ressonância magnética e tomografia de spin nuclear. Depois de vários estudos, o caminho que o cérebro percorre ao certo, não se sabe, mas foi possível detectar que a integração sensorial se dá em áreas auditivas superiores, ocorrendo precocemente. Assim, a forma em que cada sentido atua isoladamente parece falsa e o segundo modelo - de fusão sensorial - precoce parece ser o mais válido na questão.
- Carrosel dos sentidos. C Kayser, em Viver - Mente e Cérebro (Scientific American), págs. 65-67, maio, 2007
- http://www.kyb.mpg.de/publication.html?user=kayser - publicações de C Kayser
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