Em que medida a Arte interessa aos estudos materiais da comunicação?
Esta foi a pergunta lançada pelo professor Vinícius em um de nossos primeiros encontros. Não apenas como provocação momentânea, mas como algo a se manter em mente durante todo o percurso do semestre.
É uma pergunta capciosa, na medida em que ela própria, e a atitude com que foi perguntada, nos revela a própria importância da questão. É no contexto “arte” que grande parte das experiências discutidas em sala de aula, dos textos de Benjamin às vivências de novos meios de expressão, se perfazem enquanto fenômenos. Afinal, a arte não foi sempre o lugar de um encontro entre uma dimensão inteligível com um sensível que necessariamente passa por uma matéria (matéria plástica do objeto, tela ou som; ou ainda o corpo do observador) para sua expressão?
A pergunta parece querer se referir a um outro objeto. Não a arte enquanto um conjunto de atividades que guardam alguma “semelhança de família” entre si. Mas a própria conceituação de arte enquanto uma atividade eminentemente simbólica de revelação de um oculto. Mais uma vez nos parece que a resposta está embutida de alguma maneira na pergunta: Em que medida o conceito de arte ainda interessa aos estudos materiais da comunicação?
Interessar aqui pode ter vários significados. A pergunta pode se referir ao conceito de arte enquanto objeto de investigação dos estudos materiais da comunicação. Ou ainda pode querer perguntar como a manutenção de um conceito tal como arte pode influenciar ou não os objetos próprios deste estudo. Das duas formas a questão permanece como questão. Ao mesmo tempo em que o próprio ato de fazê-la desloca o papel deste conceito em toda a discussão. “Arte” passa a não ser mais uma palavra estável, usada indiscriminadamente na discussão, após uma tal pergunta.
Parece que o que aqui se insinua é uma tentativa de redução. Reduzir da arte os processos simbólicos, concentrando-se nos dados materiais que são ali postos em jogo. Neste sentido, a arte passa a ser um objeto de estudo como qualquer outro: a publicidade, os games, a arquitetura, não necessariamente a mais “artística” (tal como bem explicitada pelo Vinícius). Mas também o que chamamos de arte tem seu papel neste processo, como um lugar de experimentação com o sensível e o corpóreo.
Aqui se abre propriamente a dimensão problemática da questão, que torna-se não Em que medida a arte ou o conceito de arte interessa aos estudos materiais da comunicação?, mas, Em que a arte se diferencia de outras atividades que são também objetos dos estudos materiais da comunicação? Ou ainda: Existe aplicabilidade para o conceito de arte dentro das atividades que são objeto dos estudos materiais da comunicação?
Talvez não haja resposta precisa a esta pergunta. Da mesma maneira talvez não haja resposta precisa à questão sobre o que é a arte. Mas a pergunta permanece importante, não tanto pela sua possível resposta, mas pelo seu efeito. Neste sentido, interessa aos estudos materiais da comunicação perguntar em que medida a arte interessa aos estudos materiais da comunicação. E esta talvez seja a resposta.
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